Vivemos tempos em que o mercado se orienta por fluxos de conteúdos informacionais e cognitivos em ambientes digitais. Nesse ambiente, o mercado cultural encontra condições para a elaboração e reelaboração desses conteúdos, além de possibilitar a apropriação desses conteúdos pelos agentes desse mercado. Reconhecendo a natureza intangível de bens e serviços culturais e seu potencial na produção de riquezas e valor; analisar esse ambiente, suas características e condições, se apresenta como uma oportunidade para diferentes perfis de profissionais e instituições.
O crescente acesso à internet e a tecnologias de informação e comunicação (TICs) têm favorecido a fruição e consumo de bens e serviços culturais. E o volume de dados produzido é reconhecido como recurso importante nas estratégias dos negócios. Vários players da música e do audiovisual são cases em diferentes lugares do mundo; com experiências no mercado editorial e, mais recentemente, também nas estratégias para melhoria da experiência do público na visitação a museus.
Plataformas de acesso a conteúdos favorecem mudanças na geografia desses mercados, onde proximidades e distâncias tradicionais são relativizadas pela “distância” de clicks. Espaços são ampliados e complexidades são adicionadas, especialmente quando esta nova territorialidade não é considerada. Todos se tornam vizinhos próximos e concorrentes diretos em potencial: desde a produção e acesso a conteúdos às relações de compra e venda.
O desenho da oferta de bens e serviços mundial na economia global pós-fordista favorece a leitura dessa realidade na qual demandas locais se convertem gradualmente em demandas mundiais (Marazzi, 2009). Assim, na Sociedade do Conhecimento, o uso da informação integrando os fluxos produtivos contribui para a produção de valor resultando em novos fluxos de informação, através da comunicação, reforçado pela co-produção de informação (Albagli, 2013; Gorz, 2005; Marazzi, 2009; Lazzarato & Negri, 2001).
A integração de comunicação e informação nos processos produtivos potencializa as condições necessárias ao atendimento de necessidades comerciais aproximando a comunicação que vincula produção e consumo/fruição da capacidade de leitura das dinâmicas do mercado cultural pelos algoritmos, com apoio do uso de recursos de big data. Por essas dinâmicas, acredita-se que as condições para a produção de riqueza possam encontrar meios para se fortalecerem, com identificação de recursos para a análise de processos e resultados de sua produção. À crescente produção de dados tem se vinculado o potencial de estimular a economia, não só online, com externalidades econômicas e simbólicas que ultrapassam os ambientes da gestão cultural. Isso porque os dados produzidos também passaram a ser identificados como ativos econômicos.
Ativos intangíveis e estratégicos na produção de valor, os dados produzidos – e seus resultados na produção de informação e conhecimento – são reconhecidos como commodities, especialmente pelos fluxos e representação de valores não materiais e suas implicações simbólicas e econômicas, como reconhecido no mercado cultural. A contribuição de dados, informação e conhecimento como ativos sem substância física, produtores de valor e riqueza e sua contribuição estratégica têm papel importante para o mercado cultural.
Contudo, a capacidade de aproveitamento destes recursos está diretamente relacionada com a capacidade de coleta, organização e uso destes volumes de dados. No cotidiano da gestão cultural, a apropriação e uso de dados como recurso gerencial tem amplo espaço para expansão, com experiências nos segmentos audiovisual e musical, além do editorial e de novidades em instituições museais.
Medidas desmaterializadas e favorecidas por caminhos e velocidades apoiados em tecnologia, internet e domínio de técnicas de captura de dados – associando big data e algoritmos – se apresentam como recursos para a competitividade dos negócios. Nesse ambiente, agentes do mercado cultural têm atuado em territorialidades ampliadas e com dinâmicas potencializadas. Mas tem bastante trabalho a ser feito.
Ainda não se apresentam métodos e referenciais para o uso comum, tanto para o mapeamento quanto para a mensuração nesse mercado. Assim, olhar para as possibilidades de coletas e uso de dados e identificar possíveis formas de atuação com o uso da informação possibilita o reconhecimento de oportunidades. Isto porque, a importância da informação no século XXI tem se apresentado como diferencial estratégico pelas possibilidades que tem a oferecer com implicações econômicas e simbólicas em nível global.
Amanhã, dia 24/10, estarei no Auditório do CRC-RJ, das 16h às 18h, apresentando o tema de forma mais detalhada e construindo um diálogo com vocês. Vamos lá?
Referências
ALBAGLI, S. Informação, saber vivo e trabalho imaterial. In: ALBAGLI, S. (org.). Fronteiras da ciência da informação. Brasília: IBICT. p. 107-126, 2013.
GORZ, A. O imaterial: Conhecimento, valor e capital. São Paulo: Annablum, 2005.
LAZZARATO, M., & NEGRI, A. Trabalho imaterial: Formas de vida e produção de subjetividades. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.
MARAZZI, C. O lugar das meias: A virada lingüística da economia e seus efeitos sobre a política. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2009.
Publicado originalmente no LinkedIn, em 23 de outubro de 2018.