Fontes e qualidade dos dados para monitoramento e avaliação

Considero que processos de monitoramento e Avaliação têm dados e informação como recursos essenciais. Por serem essenciais, é importante que tanto fontes quanto qualidade dos dados e da informação sejam aspectos aos quais se dediquem tempo e cuidado.

Refletindo sobre o momento em que se começa a pensar no monitoramento e na avaliação de uma instituição, ação ou projeto, as perguntas que se deseja responder no processo e ao final são apontadas, tendo em vista os referenciais que traduzirão o resultado alcançado e balizarão os ajustes sugeridos no processo de monitoramento. Alinhado com as perguntas, propõem-se os indicadores que traduzirão os parâmetros de aproximação ou não dos objetivos e/ou metas planejados e que nortearão o monitoramento e a avaliação.

Este momento tem grande importância para todo o processo. Isto porque é o instante em que os conceitos que traduzem o que se deseja monitorar e avaliar precisam ficar claros. Também porque é o momento que os indicadores (quantitativos e qualitativos) serão definidos. Ainda porque os métodos utilizados e recursos humanos e materiais serão decididos. Mas especialmente porque é instante no qual os potenciais limites operacionais surgirão e um dos mais comuns refere-se a possíveis fontes de dados e a sua qualidade.

No afã de iniciar as atividades, trabalha-se com os dados considerados existentes, visto que foram aqueles aos quais se teve acesso ou o processo de coleta e organização “coube” no orçamento. Muitas vezes, não se avaliam as condições reais de os dados selecionados atenderem a critérios de qualidade, permitindo que o que se alcance traduza os resultados desejados e relevantes. Neste cenário, pode-se não considerar que a mensuração de alguns aspectos não seja viável, ou mesmo de identificar a maior contribuição de uma avaliação a partir de parâmetros qualitativos.

Reconhecer a oportunidade de trabalhar com dados produzidos no cotidiano da instituição ou da realização de ações e projetos tem importância e deve ser ponderado entre as decisões dos gestores. Isso contempla a realização do trabalho de organização dos dados por profissional com capacidade técnica para ser uma fonte relevante e com garantia de qualidade para os dados produzidos.

Pode não existir uma só receita ou fórmula para monitorar e avaliar, especialmente, na área cultural; como também pode não existir em outras áreas. Assim, é fundamental trabalhar com profissionais que tenham capacidade técnica para a estruturação e operacionalização devidas. Mas também, é igualmente fundamental que tais profissionais e toda a equipe tenham sensibilidade para admitir que alguns aspectos necessitam de tratamento distinto, seja por sua natureza, sua especificidade ou mesmo sua excepcionalidade no contexto em que os processos de monitoramento e avaliação são realizados.

Reconhecer e ter sensibilidade com todos os recursos utilizados evitando a extrapolação das considerações e afirmações a partir do uso dos dados ajudam a evitar o que Piovani (2015) chama de estiramento semântico do conceito de medição. Este termo traduz a tendência a forçar a quantificação de aspectos qualitativos levando a atribuição de um rótulo numérico a qualquer método que produza uma medida (PIOVANI, 2015). Contraponto seria construir referenciais qualitativos que não traduzam quantitativamente aspectos mensuráveis e suas contribuições. Tendo em vista o perfil das atividades realizadas no campo cultural e dos resultados consequentes, tem importância evidenciar o cuidado necessário em relação aos procedimentos que envolvam possibilidades de mensuração de aspectos qualitativos, tanto pelos riscos envolvidos na decisão por utilizar métricas numéricas quanto por não as utilizar.

Percebe-se que o processo é permeado por complexidades e que o apuro técnico precisa seguir alinhado com o apuro conceitual e sensível, pela possibilidade de tradução do objeto e pela possibilidade de verificar e manifestar objetivos e metas que representem a melhor apropriação por seus públicos na condução do monitoramento e da avaliação.

Para favorecer essa representação é essencial o cuidado com a seleção das fontes e a verificação da qualidade dos dados utilizados.

Referência

PIOVANI, Juan Ignacio. Reflexiones metodológicas sobre la evaluación académica. In.: Revista Política Universitaria. Buenos Aires, año 2, N.2, p. 2-11, agosto de 2015. Disponível em <http://iec.conadu.org.ar/files/publicaciones/1441904118_2-digital.pdf&gt;, acesso em 05 setembro 2017.

Publicado originalmente no LinkedIn, em 5 de junho de 2018.

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